quinta-feira, 24 de agosto de 2017

E você achou ruim a tomada? Então toma mais essa...

Caro leitor e leitora,

Não é novidade que o Brasil tem um histórico de reinventar a roda, quer para proteger o mercado nacional, quer por razões inexplicáveis. Os exemplos são muitos. O padrão de TV analógica PAL-M, o modelo digital SBTVD e, mais recentemente, a padrão tupiniquim de tomadas. Esses três padrões foram adotados por força de lei no Brasil sem ter compatibilidade com o resto do mundo.

Fabricantes estrangeiros precisaram adequar produtos para o mercado brasileiro. Obviamente, encarecendo os produtos. A industria nacional também perde competitividade no exterior. Num mundo global, adotar padrões locais é uma desvantagem duradoura.

Explicar essas escolhas é um caminho longo que eu não trilharei. Vou pular para o ponto que me aflige atualmente e que vai nos impactar no futuro muito mais do que uma tomada esquisita.

Todos nós usamos e somos dependentes da comunicação por redes sem fio. Nesse momento, escrevo em um computador conectado por uma rede Wi-Fi. Você provavelmente esta usando uma rede sem fio agora.

As redes sem fio usam ondas de rádio para funcionar e cada serviço de comunicação (Wi-Fi, bluetooth, telefone celular, etc.) funciona em faixas bem definidas. No Brasil, quem regulamenta os usos dos espectros de frequência de comunicação é a Anatel. Aparentemente está tudo bem nessas regulações, mas há um problema para o futuro.

No espectro de frequências existem algumas faixas que são livres para uso, respeitando algumas regras, e outras que exigem licença para operação. Leitores mais velhos vão se lembrar dos leilões de telefonia móvel dos anos 90. Na grande São Paulo (área 11), a Telesp Celular operava na banda A e a BCP na banda B. No interior do estado, a banda B foi operada pela Tess. Esse é um mercado vivo e, claro, foi mudando com o tempo, hoje tim mais operadoras. O que importa é recordar que essas empresas compraram o direito de explorar certas frequências.

E existe a faixa livre, chamada de ISM (do inglês, Industrial, Scientific and Medical). Ninguém precisa pagar para usar essa faixa desde que sua área de transmissão seja limitada. Por exemplo, Wi-Fi e Bluetooth usam essa faixa livre. Wi-Fi transmite com uma potência máxima de 100 mili Watts e consegue alcançar até aproximadamente 100 metros de distância. Bluetooth transmite em até 2,5 mili Watts e alcança 10 metros. Tem mais variáveis nessa história, mas o importante é saber que nas frequências livres não se pode transmitir com potências altas, para reduzir as interferências.

E de novo a história da tomada vai se repetir... Nos Estados Unidos, a faixa ISM é de 902 a 928 MHz. Na Europa, de 865 a 868 MHz.

Referência
O Brasil adotava a mesma faixa dos EUA até 2006, quando a portaria 454 da Anatel dividiu a faixa três partes. Ao invés de 902 a 928, seriam livres apenas de 902 a 907,5 e de 915 a 928.

A fatia que foi retirada, de 907,5 a 915, seria dividida em duas: as bandas D e E de telefonia celular. Hoje, em SP, essa faixa é ocupada pela Claro. (Começou a parecer uma tomada, certo? Mas vai piorar, chegarei nas consequências...)

A primeira impressão é a de que retirou-se da faixa livre para dar à exploração pelas empresas. E foi isso mesmo! O argumento utilizado foi o de que era necessário mais banda para acomodar o tráfego de Internet (3G) nos grandes centros; o que talvez pudesse ser feito colocando-se mais antenas. Posso estar enganado, mas eu não me lembro de ouvir falar de leilões, como houve para as faixas A e B, para aquisição das faixas D e E de telefonia celular. Agradeço se o leitor tiver referências para essa tomada, digo, sobre esse processo de concessão.

Agora a consequência que afetará o nosso futuro...

Os leitores já devem ter ouvido falar na Internet das Coisas, onde tudo vai estar conectado a Internet, sem custos. OK! Mas adivinha qual é a faixa de frequência que a Internet das Coisas usa? Acertou, usa a faixa ISM. Nos EUA, de 902 a 928, na Europa de 865 a 868 MHz, sempre usando faixas contínuas.

No Brasil, terra das tomadas, de decisões, inúteis, a faixa está quebrada. Para que o leitor entenda, coloco o problema com uma metáfora de transportes: nossa Internet das Coisas, ao invés de ser uma rodovia com 4 faixas, serão duas estradas menores, uma com uma faixa e outra com duas. Mas, apesar de tudo, essas faixas continuam sem pedágio.

A divisão de faixas não seria um problema sério, não fosse um detalhe técnico. Os protocolos para Internet das Coisas (vide, por exemplo, LoRaWan) estão sendo projetados segundo as realidades americanas e européias. São feitos para rodar em rodovias largas; eles simplesmente não funcionam, nos mesmos níveis, no modelo brasileiro com bandas fracionadas. Os protocolos para Internet das Coisas funcionam baseados em uma técnica chamada de espalhamento espectral e que, como o nome sugere, os protocolos precisam de uma banda ampla para "espalhar-se".

Retomando a metáfora com as estradas, adivinha qual é a opção quando as estradas pequenas ficarem congestionadas? As alternativas serão as faixas, com pedágio, é claro, oferecidas pelas operadoras de telefonia.

Prepare-se, portanto, para décadas de atraso tecnológico em relação a infraestrutura de rede para Internet das Coisas a ser oferecida no Brasil. Prepare-se para ver os estrangeiros com acesso a serviços inovadores, comunicando-se livremente sem dependência de operadoras de celulares, enquanto você queima créditos de telefonia celular.

Enfim, mais uma vez, as escolhas Brasileiras parecem ter sido equivocadas. Equivocadas, no mínimo, em termos de perspectiva para o futuro. Isso ocorre justamente quando o futuro está para dar o seu maior salto... O atraso pode ser irreversível.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Por que não reelejer ninguém? NINGUÉM!

Antes de apresentar prós e contras dessa ideia, esclareço que ao usar a palavra ninguém eu realmente quero dizer ninguém, nenhum, nem para contar as histórias -- sem exceções.

A principal razão para isso é fazer Justiça.
O Brasil sangra, ou melhor, é sangrado por políticos e partidos. Sabemos também que estes (ir)responsáveis não serão punidos. Um ou outro bode expiatório cumprirá penas curtas, curtíssimas, e logo voltará a nos sangrar. São muitos os exemplos anteriores de impunidade: Collor, Roberto Jefferson, José Dirceu, Paulo Maluf, etc.

Mas como podemos sair dessa situação?
O sistema judiciário, em geral, é ineficaz e às vezes conivente com os esquemas. Uns poucos grupos efetivamente combatem a corrupção. Definitivamente, não podemos contar com o Judiciário. Além disso, o sistema eleitoral é falho, elegendo pela quota partidária velhos caciques com os votos de celebridades. Por exemplo, dos 513 deputados apenas 36 teriam sido eleitos com os seus próprios votos. Também ficou claro que o poder de mobilização da sociedade não será capaz de fazer barulho o suficiente para ser ouvida.

Na verdade, não podemos contar com ninguém; não há salvador. A nossa única arma é o voto. Uma arma que tem sido muitíssimo mal utilizada, ou não estaríamos nessa situação.

E o que é o melhor a se fazer com o nosso voto?
Primeiro, não votar naqueles partidos que comprovadamente estão envolvidos nos esquemas de corrupção. Na minha opinião (pode criar a sua própria lista, mas tenho certeza de que haverá coincidências), os piores, em ordem, são: PT, PMDB, PSDB, PP, PR, DEM e PSB. Mas os demais também não são redutos de pureza.

Um partido político, observe bem, é um esquema que premia os mais corruptos. Como se forma a hierarquia em um partido? Quem manda mais? Quem é capaz de arrecadar mais recursos para as campanhas. Quem tem mais esquemas. Ou seja, os caciques são, por construção, os piores. Então, a segunda coisa a se fazer com o seu voto é evitar os caciques.

E, é claro, seu voto deve ser dado para candidatos éticos e idôneos.

Essas seriam regras básicas, mas é preciso ir além. É preciso dar um basta. É preciso sinalizar que o povo não é tolo, nem tem sangue de barata. É preciso dar o "troco". Sem o sentimento de vingança, mas de Justiça.

Então, o que podemos fazer para dar o troco? Podemos não reelejer ninguém. Ninguém! Seria um recado sonoro do nosso descontentamento. Do alto de sua superioridade, o povo aplicaria o mais duro castigo à classe política: o ostracismo.

Imagine se isso acontecesse... Como seria o sentimento de esperança? Como seriam as manchetes na imprensa mundial? Seria o mais belo sinal de que o Brasil tem jeito. Seria uma inesquecível lição de Democracia para todas as nações do mundo. Enfim, seria lindo.

É utópico, mas sair rápido dessa crise também o é. Precisamos sonhar.

Só por esse recado de força (de caráter, inclusive) para o mundo já valeria a pena abraçar a iniciativa, mas há outras razões concretas para não reeleger:

a) Seria um duro golpe nos esquemas de corrupção existentes.
b) Os políticos perderiam o foro privilegiado automaticamente, abrindo a possibilidade de serem pegos no ficha limpa.
c) O Brasil precisa de reformas. Com o congresso e o executivo renovados, o corporativismo tenderia a diminuir, seria mais fácil reduzir super salários e os privilégios parlamentares.
d) Um quadro renovado trará ideias novas e buscará reverter o sentimento popular de insatisfação. Hoje, os políticos concentram-se apenas em salvar a sua própria pele.
e) Seria mais fácil para o futuro presidente, seja ele quem for, formar um novo pacto no congresso em torno de uma agenda positiva, sem a necessidade de compra de votos. (Estranho dizer isso, mas foi assim nos últimos 20 anos.)
f) E, é claro, os políticos passariam a respeitar mais o povo.

Pode-se questionar que perderíamos alguns bons políticos que ainda existem. Esse é um risco. Mas quantos bons políticos você conhece? É um preço a se pagar, com custo quase zero. E o bom homem público encontrará o seu caminho, continuará contribuindo.

Este é o meu sonho e é assim que vou orientar o meu voto.
Para eles, os políticos, o merecido ostracismo. Para nós, o povo, a esperança.
Por favor, não reeleja!