segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

"Vai todo mundo perder!"

Dilma Roussef certa vez profetizou que todos perderíamos. O vídeo em questão pode ser encontrado no YouTube e você provavelmente ainda se lembra daquelas palavras embaralhadas. O final era: "Vai todo mundo perder!"

O fato é que nas eleições de 2018 provavelmente será exatamente isso que acontecerá. Todos nós perderemos.

O país está fragmentado. Nenhuma força política conseguiu criar um discurso de união ou de alinhamento em torno de um novo pacto social. A possibilidade de discussão de um pacto ficou postergada para depois do segundo turno, quando serão reavaliadas as probabilidades de acesso ao poder.

Hoje lideram a pesquisa: Lula, com um discurso à esquerda lembrando o sindicalista dos anos 80; Bolsonaro, com um discurso simplista, sem observar a complexidade das composições de força; outros candidatos não chegam a 10%, Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Pode), Ciro (PDT), Meirelles (PSD) e Amoêdo (Novo); e os demais não tem sequer 1%.
Nenhum desses candidatos, todos frágeis como um dente-de-leão, representam uma reconstrução. Nenhum deles possui o carimbo no qual se lê "Ético", "Confiável" ou "Diferente do resto".

Qual deles seria capaz de, se eleito, construir uma maioria de cerca de 60 ou 65% no congresso para governar com altivez e com a força do voto? Sem preocupar-se com arranjos ou troca de favores?

A aliança que o Brasil precisa devia ser construída agora. Antes do sangue escorrer nas campanhas. Antes dos desgastes. Antes do congresso ser eleito.

Essa aliança pode estar à esquerda, à diretia, ou ao centro (onde é mais provável), mas se esperar o segundo turno pode ser tarde demais. Os deputados já terão sido eleitos e passarão a ser independentes em relação ao projeto escolhido pelo povo para a presidência. Ou se constrói uma maioria agora, ou serão mais 4 anos de trocas de favores, liberação de emendas e jogos de interesse. Eu desejo algo melhor...

Mas não acredito que uma coalizão será construída. Por que? Porque cada partido espera se dar bem no processo eleitoral, quer fazendo oposição, quer apoiando o status quo. Do seu próprio umbigo, todos se acham corretos e porta-vozes do povo; na verdade representam apenas a si mesmos e a pequena cúpula do partido.

Ao se analisar as chances de cada um, temos: um PT isolado, sua chance repousa apenas nos 30% de votos fiéis ao Lula; aliás, esses votos são do Lula e não do PT. Se condenado em algum dos inúmeros processos aos quais responde -- o que é provável, Lula deixará o partido sem substituto à altura. O PSDB vive do passado e acha que terá a mesma força com Alckmin que teve com FHC; uma falácia. Ciro será sempre apenas um falastrão; ele até tem razão às vezes, mas não tem apoio. Marina, está esvaziada em um partido nanico e precisa insistir nessa estratégia para fomentar o crescimento da Rede. O mesmo vale para Amoêdo. Bolsonaro tende a não ter tempo de TV, pois ninguém quer vincular-se a sua imagem de extrema direita; Bolsonaro aposta no ativismo das redes sociais, isto é, é apenas um risco. Álvaro Dias vê-se em um partido pequeno e que, na prática, ainda não se mostrou diferente do resto. Meirelles é o símbolo do liberalismo e não será um candidato viável nas urnas. Os demais candidatos, em suma, apresentam os mesmos pecados dos anteriores combinados em diferentes cores e graus. O PMDB pode pesar nessa balança, dando tempo de TV ao candidato que apoiar; mas seu apoio pode custar mais votos do que agrega...

Todos eles  acreditam em vitória. Na verdade, são obrigados a acreditar para manter o investimento no partido ou para manter uma trajetória de crescimento político.

Ainda não vi um projeto de Brasil. Você viu?
Com essa postura, como disse Dilma Roussef, "Vai todo mundo perder!".

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Platão e Aristóteles com coxinhas e mortadelas num banquete...


"Platão e Aristóteles! Não são apenas os dois sistemas, mas também os tipos de duas naturezas humanas diferentes que, desde tempos imemoriais e sob as mais diversas aparências, se confrontam de forma mais ou menos hostil. Durante toda a Idade Média houve este confronto que veio até os nossos dias. Aliás esta disputa é o conteúdo essencial da história da Igreja cristã. Sempre se trata de Platão e Aristóteles, ainda que sejam outros os nomes. Naturezas apaixonadas, místicas e platônicas desentranham, do mais profundo de sua índole, as ideias cristãs e os símbolos correspondentes. Naturezas práticas, sistemáticas e aristotélicas constroem a partir dessas ideias e símbolos um sistema sólido, uma dogmática e um culto. A Igreja absorveu, ao final, ambas as naturezas, enraizando-se uma sobretudo no clero e a outra no monacato, havendo entre eles hostilidade sem tréguas.
H. HEINE, I Deutschland.
Extraído de uma citação de Tipos Psicológicos,
Obras completas de Carl Gustav Jung. Grifo meu.



O trecho acima me lembrou de "Coxinhas e Mortadelas". Talvez o leitor tenha pensado nos mesmos tipos.

Heine foi um poeta alemão. Como ele é praticamente desconhecido para nós, cabe dizer que ele tinha um perfil crítico e combatente como o de Voltaire. E a seu tempo enfrentou a censura e discussões não muito coerentes.

Em nosso tempo, é comum testemunhar discussões incoerentes. Monólogos.
Por que?

Até certo ponto, é compreensível. As pessoas tem pontos de vista (objetivos) e referências (bases de informação) diferentes. O que é bom mim pode nem passar pela cabeça do outro. Por exemplo, em 2007 quando trabalhávamos na confecção de uma grade para o curso de Computação da UNIFESP, percebi que as defesas de cada participante da reunião, em termos do que devia entrar e o que devia sair da grade, tendiam ao seu curso de origem. Isto é, tendia-se a defender o modelo conhecido, quase sempre atuamos assim. Percebido isso, é fácil entender que a opinião do outro não necessariamente é errada.

Esse é o ponto de impasse que considero Honesto: as pessoas divergem por terem objetivos ou bases diferentes. Para sair desse impasse, basta aprofundar o conhecimento sobre o assunto. O impasse deve se diluir em questões menores, até que seja possível, conscientemente, escolher entre as opções restantes.

Mas as vezes uma argumentação não é honesta. O debatedor apenas quer impor sua opinião. Suponha uma situação em que uma pessoa não esteja ouvindo os seus argumentos. Faça um teste... É hora de parar a discussão se ela não aceitar um fato óbvio sobre o assunto ao qual ela é contrária. Por exemplo, Cuba e Fidel Castro são assuntos controversos, que aceitam diferentes objetivos e possuem amplo material de base. Mas seja a favor ou contra, entendo que todos devem ser capazes de assumir que Fidel Castro foi uma figura importante na história do século XX. (O leitor pode escolher outro exemplo se for incapaz de concordar com a frase anterior.) Se em uma discussão, um dos debatedores não assumir posições muito básicas e claras, como no exemplo, significa que é uma discussão desonesta. O debatedor quer apenas impor uma opinião. Mude de assunto e deixe de perder tempo; não leve a sério aquela discussão.

Mesmo no começo de uma discussão pode ser bom verificar se trata-se de um diálogo honesto. Para isso, basta fazer pequenas assertivas. Verifique se o debatedor é capaz de assumir, honestamente, opiniões que não o agradam.

Então, excluídos os cenários desonestos, existem situações em que uma discussão não converge de jeito nenhum. As tentativas de nivelamento das referências parecem não surtir efeito. Nada parece ajudar para que a discussão chegue a termo. Aí entra a questão de Jung destacada no começo do texto!

Platônicos e Aristotélicos, apaixonados e sistemáticos, holísticos e pragmáticos. Símbolos e números. Ideais ou fatos.

Podemos estar discutindo sobre bases diferentes e incompatíveis. O caso Coxinhas e Mortadelas é um exemplo. A discussão sobre a validade legal do Impeachment é outro exemplo, talvez mais simples. Uns discutem sobre a previsão nas leis, outros discutem sobre as intenções do ato.

Observe que não é uma questão de referencias diferentes, as pessoas podem ter as mesmas informações, mas uma discute em um campo e outra em outro. E não há interesse nos campos alheios.

Na discussão entre Coxinhas e Mortadelas, as bases diferentes em questão são: para uns, cabe observar os fatos econômicos negativos, para outros é mais importante a identificação de setores políticos com a população. São bases de discussão completamente diferentes. Portanto, não chegarão a termo.

A diferenças Platão x Aristóteles talvez possa ser colocada como Vontade x Fatos. (Cabe escrever um livro sobre o significado do termo Vontade, mas ao usar o termo aqui me refiro mais aos arquétipos platônicos do que ao uso comum da palavra Vontade, associada ao desejo.)

Uma discussão Platão x Aristóteles vai ser marcada por bases diferentes de interesse. Os Platônicos defenderão ações associadas com o ideal, com o que querem para o futuro. Os Aristotélicos serão mais pragmáticos e defenderão o que enxergam como futuro. A sobrevivência é tudo para um Aristotélico.

Ainda estou refletindo se os indivíduos são sempre de um tipo ou de outro, ou se podem trocar o chapéu conforme o assunto. E o que os faria mudar de chapéu?  Por mero interesse é possível mudar de arcabouço argumentativo?

Termino aqui. Achei genial a colocação de Heine e não pude deixar de fazer o paralelo com Coxinhas e Mortadelas. De agora em diante, espero não ser mais chamado de Coxinha :-)

Fica a seguinte tarefa: quando identificar uma discussão difícil, observe se não se trata de uma discussão Platão x Aristóteles.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

E você achou ruim a tomada? Então toma mais essa...

Caro leitor e leitora,

Não é novidade que o Brasil tem um histórico de reinventar a roda, quer para proteger o mercado nacional, quer por razões inexplicáveis. Os exemplos são muitos. O padrão de TV analógica PAL-M, o modelo digital SBTVD e, mais recentemente, a padrão tupiniquim de tomadas. Esses três padrões foram adotados por força de lei no Brasil sem ter compatibilidade com o resto do mundo.

Fabricantes estrangeiros precisaram adequar produtos para o mercado brasileiro. Obviamente, encarecendo os produtos. A industria nacional também perde competitividade no exterior. Num mundo global, adotar padrões locais é uma desvantagem duradoura.

Explicar essas escolhas é um caminho longo que eu não trilharei. Vou pular para o ponto que me aflige atualmente e que vai nos impactar no futuro muito mais do que uma tomada esquisita.

Todos nós usamos e somos dependentes da comunicação por redes sem fio. Nesse momento, escrevo em um computador conectado por uma rede Wi-Fi. Você provavelmente esta usando uma rede sem fio agora.

As redes sem fio usam ondas de rádio para funcionar e cada serviço de comunicação (Wi-Fi, bluetooth, telefone celular, etc.) funciona em faixas bem definidas. No Brasil, quem regulamenta os usos dos espectros de frequência de comunicação é a Anatel. Aparentemente está tudo bem nessas regulações, mas há um problema para o futuro.

No espectro de frequências existem algumas faixas que são livres para uso, respeitando algumas regras, e outras que exigem licença para operação. Leitores mais velhos vão se lembrar dos leilões de telefonia móvel dos anos 90. Na grande São Paulo (área 11), a Telesp Celular operava na banda A e a BCP na banda B. No interior do estado, a banda B foi operada pela Tess. Esse é um mercado vivo e, claro, foi mudando com o tempo, hoje tim mais operadoras. O que importa é recordar que essas empresas compraram o direito de explorar certas frequências.

E existe a faixa livre, chamada de ISM (do inglês, Industrial, Scientific and Medical). Ninguém precisa pagar para usar essa faixa desde que sua área de transmissão seja limitada. Por exemplo, Wi-Fi e Bluetooth usam essa faixa livre. Wi-Fi transmite com uma potência máxima de 100 mili Watts e consegue alcançar até aproximadamente 100 metros de distância. Bluetooth transmite em até 2,5 mili Watts e alcança 10 metros. Tem mais variáveis nessa história, mas o importante é saber que nas frequências livres não se pode transmitir com potências altas, para reduzir as interferências.

E de novo a história da tomada vai se repetir... Nos Estados Unidos, a faixa ISM é de 902 a 928 MHz. Na Europa, de 865 a 868 MHz.

Referência
O Brasil adotava a mesma faixa dos EUA até 2006, quando a portaria 454 da Anatel dividiu a faixa três partes. Ao invés de 902 a 928, seriam livres apenas de 902 a 907,5 e de 915 a 928.

A fatia que foi retirada, de 907,5 a 915, seria dividida em duas: as bandas D e E de telefonia celular. Hoje, em SP, essa faixa é ocupada pela Claro. (Começou a parecer uma tomada, certo? Mas vai piorar, chegarei nas consequências...)

A primeira impressão é a de que retirou-se da faixa livre para dar à exploração pelas empresas. E foi isso mesmo! O argumento utilizado foi o de que era necessário mais banda para acomodar o tráfego de Internet (3G) nos grandes centros; o que talvez pudesse ser feito colocando-se mais antenas. Posso estar enganado, mas eu não me lembro de ouvir falar de leilões, como houve para as faixas A e B, para aquisição das faixas D e E de telefonia celular. Agradeço se o leitor tiver referências para essa tomada, digo, sobre esse processo de concessão.

Agora a consequência que afetará o nosso futuro...

Os leitores já devem ter ouvido falar na Internet das Coisas, onde tudo vai estar conectado a Internet, sem custos. OK! Mas adivinha qual é a faixa de frequência que a Internet das Coisas usa? Acertou, usa a faixa ISM. Nos EUA, de 902 a 928, na Europa de 865 a 868 MHz, sempre usando faixas contínuas.

No Brasil, terra das tomadas, de decisões, inúteis, a faixa está quebrada. Para que o leitor entenda, coloco o problema com uma metáfora de transportes: nossa Internet das Coisas, ao invés de ser uma rodovia com 4 faixas, serão duas estradas menores, uma com uma faixa e outra com duas. Mas, apesar de tudo, essas faixas continuam sem pedágio.

A divisão de faixas não seria um problema sério, não fosse um detalhe técnico. Os protocolos para Internet das Coisas (vide, por exemplo, LoRaWan) estão sendo projetados segundo as realidades americanas e européias. São feitos para rodar em rodovias largas; eles simplesmente não funcionam, nos mesmos níveis, no modelo brasileiro com bandas fracionadas. Os protocolos para Internet das Coisas funcionam baseados em uma técnica chamada de espalhamento espectral e que, como o nome sugere, os protocolos precisam de uma banda ampla para "espalhar-se".

Retomando a metáfora com as estradas, adivinha qual é a opção quando as estradas pequenas ficarem congestionadas? As alternativas serão as faixas, com pedágio, é claro, oferecidas pelas operadoras de telefonia.

Prepare-se, portanto, para décadas de atraso tecnológico em relação a infraestrutura de rede para Internet das Coisas a ser oferecida no Brasil. Prepare-se para ver os estrangeiros com acesso a serviços inovadores, comunicando-se livremente sem dependência de operadoras de celulares, enquanto você queima créditos de telefonia celular.

Enfim, mais uma vez, as escolhas Brasileiras parecem ter sido equivocadas. Equivocadas, no mínimo, em termos de perspectiva para o futuro. Isso ocorre justamente quando o futuro está para dar o seu maior salto... O atraso pode ser irreversível.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Por que não reelejer ninguém? NINGUÉM!

Antes de apresentar prós e contras dessa ideia, esclareço que ao usar a palavra ninguém eu realmente quero dizer ninguém, nenhum, nem para contar as histórias -- sem exceções.

A principal razão para isso é fazer Justiça.
O Brasil sangra, ou melhor, é sangrado por políticos e partidos. Sabemos também que estes (ir)responsáveis não serão punidos. Um ou outro bode expiatório cumprirá penas curtas, curtíssimas, e logo voltará a nos sangrar. São muitos os exemplos anteriores de impunidade: Collor, Roberto Jefferson, José Dirceu, Paulo Maluf, etc.

Mas como podemos sair dessa situação?
O sistema judiciário, em geral, é ineficaz e às vezes conivente com os esquemas. Uns poucos grupos efetivamente combatem a corrupção. Definitivamente, não podemos contar com o Judiciário. Além disso, o sistema eleitoral é falho, elegendo pela quota partidária velhos caciques com os votos de celebridades. Por exemplo, dos 513 deputados apenas 36 teriam sido eleitos com os seus próprios votos. Também ficou claro que o poder de mobilização da sociedade não será capaz de fazer barulho o suficiente para ser ouvida.

Na verdade, não podemos contar com ninguém; não há salvador. A nossa única arma é o voto. Uma arma que tem sido muitíssimo mal utilizada, ou não estaríamos nessa situação.

E o que é o melhor a se fazer com o nosso voto?
Primeiro, não votar naqueles partidos que comprovadamente estão envolvidos nos esquemas de corrupção. Na minha opinião (pode criar a sua própria lista, mas tenho certeza de que haverá coincidências), os piores, em ordem, são: PT, PMDB, PSDB, PP, PR, DEM e PSB. Mas os demais também não são redutos de pureza.

Um partido político, observe bem, é um esquema que premia os mais corruptos. Como se forma a hierarquia em um partido? Quem manda mais? Quem é capaz de arrecadar mais recursos para as campanhas. Quem tem mais esquemas. Ou seja, os caciques são, por construção, os piores. Então, a segunda coisa a se fazer com o seu voto é evitar os caciques.

E, é claro, seu voto deve ser dado para candidatos éticos e idôneos.

Essas seriam regras básicas, mas é preciso ir além. É preciso dar um basta. É preciso sinalizar que o povo não é tolo, nem tem sangue de barata. É preciso dar o "troco". Sem o sentimento de vingança, mas de Justiça.

Então, o que podemos fazer para dar o troco? Podemos não reelejer ninguém. Ninguém! Seria um recado sonoro do nosso descontentamento. Do alto de sua superioridade, o povo aplicaria o mais duro castigo à classe política: o ostracismo.

Imagine se isso acontecesse... Como seria o sentimento de esperança? Como seriam as manchetes na imprensa mundial? Seria o mais belo sinal de que o Brasil tem jeito. Seria uma inesquecível lição de Democracia para todas as nações do mundo. Enfim, seria lindo.

É utópico, mas sair rápido dessa crise também o é. Precisamos sonhar.

Só por esse recado de força (de caráter, inclusive) para o mundo já valeria a pena abraçar a iniciativa, mas há outras razões concretas para não reeleger:

a) Seria um duro golpe nos esquemas de corrupção existentes.
b) Os políticos perderiam o foro privilegiado automaticamente, abrindo a possibilidade de serem pegos no ficha limpa.
c) O Brasil precisa de reformas. Com o congresso e o executivo renovados, o corporativismo tenderia a diminuir, seria mais fácil reduzir super salários e os privilégios parlamentares.
d) Um quadro renovado trará ideias novas e buscará reverter o sentimento popular de insatisfação. Hoje, os políticos concentram-se apenas em salvar a sua própria pele.
e) Seria mais fácil para o futuro presidente, seja ele quem for, formar um novo pacto no congresso em torno de uma agenda positiva, sem a necessidade de compra de votos. (Estranho dizer isso, mas foi assim nos últimos 20 anos.)
f) E, é claro, os políticos passariam a respeitar mais o povo.

Pode-se questionar que perderíamos alguns bons políticos que ainda existem. Esse é um risco. Mas quantos bons políticos você conhece? É um preço a se pagar, com custo quase zero. E o bom homem público encontrará o seu caminho, continuará contribuindo.

Este é o meu sonho e é assim que vou orientar o meu voto.
Para eles, os políticos, o merecido ostracismo. Para nós, o povo, a esperança.
Por favor, não reeleja!

domingo, 21 de maio de 2017

Diretas Já? Pense um pouco sobre isso...

Imediatamente após o início dos escândalos envolvendo a presidência da república surgiram os primeiros brados pedindo "Diretas Já''. Todos que apoiam a democracia apoiam o voto direto. Mas o sistema político brasileiro tem as suas limitações...

Mas antes de comentar esse assunto, primeiro quero eliminar uma possibilidade.
As vertentes mais radicais desejam Eleições Gerais Já, isto é, desejam que o mais rápido possível elejam-se presidente, governadores, senadores e deputados. Observe que isso significa interromper prematuramente os mandatos do legislativo. Senadores e Deputados votariam a favor? Sem chance! A única chance seria por uma intervenção, mas não vou nem comentar essa possibilidade. Portanto, salvo aconteça um milagre, eleições gerais não são uma opção.

Eliminada a possibilidade de Eleições Gerais, falemos das Diretas.
Eleições diretas para presidente podem ser uma opção. Existe uma série de consequências práticas que não estão sendo levadas em consideração, mas o importante seria o desfecho.

Gostaria de fazer uma breve reflexão sobre os desfechos possíveis.

Suponha que um presidente e um vice são eleitos e tomam posse em 01 de janeiro de 2018. Mas o congresso e o senado são os mesmos atuais.
Como há uma clara divergência popular com o legislativo, esse presidente e vice não devem ter apoio das casas legislativas. Pronto: aqui estamos nós com pelo menos mais um ano de crise e ingovernabilidade. Mas o pior está por vir...

Em 2018, após cerca de um ano de mandato do presidente, temos eleições para deputados e senadores. Se o presidente foi mal nesse período, a tendência é eleger deputados e senadores opositores. Pronto: temos mais alguns anos de ingovernabilidade. Se o presidente foi bem (o que é improvável, mas milagres acontecem) a tendência é eleger uma bancada favorável ao executivo, o que garantiria governabilidade, mas esmagaria a oposição; o que não é um hábito democrático saudável e costuma acabar como a Venezuela.

Desse modo, em caso de Diretas, qual seria o cenário mais provável? O mais provável é eleger um presidente que não tem apoio no legislativo. Sendo assim, é provável que o presidente faça um péssimo primeiro ano de mandato (vide segundo mandato de Dilma). A seguir, dado o descontentamento popular, é provável que o congresso seja em sua maioria de oposição ao presidente eleito. Nesse caso temos um desastre.

Nessa argumentação eu nem inclui fatores negativos potencialmente perigosos, como a condenação de Lula durante o processo eleitoral, as aventuras eleitoreiras de Bolsonaro e Joaquim Barbosa, entre outras.

Eleições "Diretas Já", além de inconstitucionais, são uma aposta arriscada. Eu vejo apenas chances do Brasil perder.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Os primeiros 10 anos do ICT. Comemoremos!

O Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) completará 10 anos em 2017, a primeira aula foi em 26 de março de 2007. Como testemunha dessa história, escrevi algumas reflexões para lembrar que temos muito para comemorar.

Antes de mais nada, devemos celebrar os dez anos consecutivos de avanços. Em fevereiro de 2007, quando cheguei ao que viria a ser o ICT, não havia praticamente nada. O curso de Computação começou com um mês de atraso, em uma área emprestada pelo Parque Tecnológico onde hoje funciona a incubadora. O espaço que recebeu a turma 01 era pequeno, mas foi zelosamente projetado pelos Professores José Raimundo e Raupp, então gestores do Parque Tecnológico.
Não havia servidores efetivos, apenas quatro docentes substitutos (Arakaki, Flávia Beatriz, José Ernesto e eu), uma secretária sedida pela PMSJC (Deise) e um estagiário (Clayton). Mais tarde, para o segundo semestre de 2007 chegaram outros três substitutos (Camargo, Joyce e Teodora). Só em 2008 o campus recebeu os primeiros servidores efetivos.

Hoje são três unidades, cerca de 150 servidores, mais de mil alunos, diversos programas de extensão, 7 cursos de graduação e em breve serão 8 programas de pós-graduação. Este ano o ICT formou quase 200 estudantes. Deve-se comemorar também a formação de um quadro jovem e vibrante de servidores, assim como a organização dos planos pedagógicos e da estrutura administrativa. Tudo isso em 10 apenas anos. Existem problemas, ainda há muito por se fazer, mas o ICT, em si, foi uma grande conquista de todos.

O futuro, entretanto, reserva  novos desafios.
Estamos vivendo o ápice de um ponto de inflexão da estrutura social e política brasileira, com impactos na estrutura educacional.
Nos últimos anos e meses, a Educação brasileira passou por muitas mudanças, dentre elas: o fim da expansão, o ENEM e o SISU, os cortes orçamentários, o congelamento orçamentário, a lei de estágios, greves, a paridade, os bacharelados interdisciplinares, a extensão como componente curricular obrigatória, etc. Além disso, os alunos mudaram. A geração Internet, aquela que nasceu quando já tínhamos computador em casa, chegou na universidade e estamos passando pela revolução dos cursos online. A mudança continua. Em breve, o Brasil fará reformas políticas profundas, tais como a reforma do ensino médio e a reforma da previdência. Até mesmo o fim do princípio de gratuidade da Educação está em discussão.

Em pontos de inflexão com o atual, se adapta ou se quebra; mas eu tenho a certeza de que o ICT se adaptará.  Acredito nisso porque vejo nos corredores um sentimento simples mas difícil de conter: o desejo por excelência. Se em poucos anos o ICT construiu a reputação de ser uma instituição de qualidade, isso aconteceu porque sempre valorizou a excelência. A excelência concretizou-se como um valor do campus e este é mais um fator a ser comemorado nesses 10 anos. Talvez seja o mais importante...

Os problemas atuais, simplesmente por serem urgentes, nos iludem. Eles parecem maiores do que as conquistas, mas não são.
Repito sempre que o ICT nunca teve um ano pior do que o anterior. Isto é, 2008 foi melhor que 2007, 2009 melhor que 2008 e assim por diante. Os próximos anos não serão diferentes. O ICT continuará avançando. Mesmo que o horizonte econômico seja pessimista, mesmo com problemas sérios de segurança e transporte, mesmo que o orçamento continue caindo, a comunidade do ICT continuará atuando com o zelo que sempre atuou. Se o instituto não crescer em tamanho, crescerá na maturidade de seus processos. Se não crescer no número de servidores, crescerá na qualidade das relações humanas. Se não crescer no número de alunos, crescerá na qualidade da formação oferecida.

Por fim, ao ICT, nesse aniversário de 10 anos, desejo apenas o que já lhe é de direito, a longevidade sólida das boas instituições universitárias. Parabéns ICT! Parabéns a todos nós que participamos dessa história.


pdf

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A era do "Open Data"

Atualmente passamos por uma revolução de serviços Web, e não apenas Web. Cada vez mais eficientes, fazendo uso de novas tecnologias que empoderam os usuários, novos mercados estão surgindo.

Uber, AirBNB, Trivago, NU Bank, Blockchain, etc. são alguns exemplos. Todos eles tem em comum a inovação, a eficiência, a redução de custos e o empoderamento dos usuários.

Qual é o próximo passo?

O natural é que essa eficiência seja levada para os níveis público e também individuais. Em breve cobraremos das prefeituras níveis de serviço como os oferecidos pelo Uber. Em breve, cobraremos os indivíduos com a mesma precisão que verificamos os indicadores de uma casa do AirBNB.

Para que isso aconteça, é natural que haja esforço em torno de Open Data. O que é Open Data? Veja: https://en.wikipedia.org/wiki/Open_data

O Brasil está ATRASADÍSSIMO nessa área...