domingo, 21 de maio de 2017

Diretas Já? Pense um pouco sobre isso...

Imediatamente após o início dos escândalos envolvendo a presidência da república surgiram os primeiros brados pedindo "Diretas Já''. Todos que apoiam a democracia apoiam o voto direto. Mas o sistema político brasileiro tem as suas limitações...

Mas antes de comentar esse assunto, primeiro quero eliminar uma possibilidade.
As vertentes mais radicais desejam Eleições Gerais Já, isto é, desejam que o mais rápido possível elejam-se presidente, governadores, senadores e deputados. Observe que isso significa interromper prematuramente os mandatos do legislativo. Senadores e Deputados votariam a favor? Sem chance! A única chance seria por uma intervenção, mas não vou nem comentar essa possibilidade. Portanto, salvo aconteça um milagre, eleições gerais não são uma opção.

Eliminada a possibilidade de Eleições Gerais, falemos das Diretas.
Eleições diretas para presidente podem ser uma opção. Existe uma série de consequências práticas que não estão sendo levadas em consideração, mas o importante seria o desfecho.

Gostaria de fazer uma breve reflexão sobre os desfechos possíveis.

Suponha que um presidente e um vice são eleitos e tomam posse em 01 de janeiro de 2018. Mas o congresso e o senado são os mesmos atuais.
Como há uma clara divergência popular com o legislativo, esse presidente e vice não devem ter apoio das casas legislativas. Pronto: aqui estamos nós com pelo menos mais um ano de crise e ingovernabilidade. Mas o pior está por vir...

Em 2018, após cerca de um ano de mandato do presidente, temos eleições para deputados e senadores. Se o presidente foi mal nesse período, a tendência é eleger deputados e senadores opositores. Pronto: temos mais alguns anos de ingovernabilidade. Se o presidente foi bem (o que é improvável, mas milagres acontecem) a tendência é eleger uma bancada favorável ao executivo, o que garantiria governabilidade, mas esmagaria a oposição; o que não é um hábito democrático saudável e costuma acabar como a Venezuela.

Desse modo, em caso de Diretas, qual seria o cenário mais provável? O mais provável é eleger um presidente que não tem apoio no legislativo. Sendo assim, é provável que o presidente faça um péssimo primeiro ano de mandato (vide segundo mandato de Dilma). A seguir, dado o descontentamento popular, é provável que o congresso seja em sua maioria de oposição ao presidente eleito. Nesse caso temos um desastre.

Nessa argumentação eu nem inclui fatores negativos potencialmente perigosos, como a condenação de Lula durante o processo eleitoral, as aventuras eleitoreiras de Bolsonaro e Joaquim Barbosa, entre outras.

Eleições "Diretas Já", além de inconstitucionais, são uma aposta arriscada. Eu vejo apenas chances do Brasil perder.